quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Estão Voltando as Flores.

Oi gente querida,
É amanhã que a Primavera vai chegar. E as flores vão voltar:





A primeira vez que ouvi "Estão voltando as flores" ao vivo foi em um barzinho de Santos, o "Chão de Estrelas", em 1971. Antes, ouvira algumas vezes na voz potente de Helena de Lima. Miltinho, cantor ainda em voga, ia se apresentar. Antes dele, subiu ao palco um senhor, creio que apresentou-se como sogro e empresário, e cantou a música: "Vê, estão voltando as flores / Vê, nessa manhã tão linda / Vê, como é bonita a vida / Vê, há esperança ainda". Ele dá uma solfejada no "Vêee" que era uma graça. Confesso que fui meio inconveniente, pedindo dois bis. Afinal, o show era do Miltinho.
No final, fui perguntar da música. Tão bonita quanto ela, era sua história. O autor tinha ficado muito doente, dado como desenganado, e uma manhã o médico chegou em sua cama, no hospital, e anunciou que a doença fora vencida. Dali para frente, virou meu hino de esperança, acompanhando-me nos piores momentos de minha vida.

O autor era Paulo Soledade, que por duas vezes anunciei, aqui, vontade de conhecer. Através da extraordinária "Enciclopédia da Música Brasileira", do Publifolha, --que ganhei na semana passada, depois de relacionar uma série de autores que desconhecia--, fico sabendo mais de Soledade.
Paulo Gurgel Valente do Amaral Soledade nasceu em 1919, há 80 anos portanto, em Paranaguá, Paraná, mas desde logo tornou-se membro da escola mais galante dos cariocas honorários. Com cerca de vinte anos fez teatro com Ziembinsky. Depois, entrou na Força Aérea e ajudou a fundar o famosíssimo Clube dos Cafajestes, além de compor seu hino.
Em 1942 foi para os Estados Unidos, fez curso de caça e voltou -pasme!—como tenente da força aérea americana. Trocou por uma carreira de comandante na aviação civil, que abandonou sete anos depois, por problemas de saúde. Foi homem da noite, montando a famosa casa "Zum Zum", que abrigou os primeiros ícones da bossa nova no início dos anos 60.
Seu repertório é pequeno, porém estupendo. "Estão Voltando as Flores" é de 1961. Em 1952, com Marino Pinto, compôs o "Estrela do Mar", sucesso fulminante de Dalva de Oliveira ("Um pequenino grão de areia / que era um pobre sonhador / olhando o céu viu uma estrela / e imaginou coisas de amor"). Em 1954, com Vinícius de Morais, compôs "Poema dos Olhos da Amada", tão espessamente romântico que parecia até Tom Jobim daqueles anos ("Ó minha amada / que olhos são seus / são cais noturnos / cheios de adeus"). Em 1956 compôs "São Francisco", também com Vinícius, que viria a se popularizar no início dos anos 80, em um disco de cantigas de criança que tinha Chico Buarque, MPB4, Marina Lima entre outros. Em 1949, com Fernando Lobo, compôs "Zum Zum" ("ô zum zum zum zum zum zum / está faltando um"), em homenagem a um companheiro de aeronáutica, que morrera. Essa música fez parte de meu repertório juvenil, trazida por Edu Lobo, filho de Fernando Lobo. Tudo isso sem contar "Insensato Coração" (com Antônio Maria).
Pois o velho Soledade, que meu amigo Pelão tinha me prometido apresentar quando fôssemos ao Rio, morreu a semana passada, recebendo menos destaque na imprensa brasileira que a morte, por exemplo, de Alberta Hunter
Mas para os da minha geração, brasileiros de profissão esperança, até o final dos nossos dias os oito versos do "Estão Voltando as Flores" continuarão sendo o símbolo máximo de um povo que pode perder batalhas, mas não perde a fé: "Vê, as nuvens vão passando / Vê, um novo céu se abrindo / Vê, o sol iluminando / Por onde nós vamos indo".

Fonte: http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-musica-de-paulo-soledade



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