domingo, 12 de março de 2017

O Conto do Príncipe Vigário.





Por Sandra Braconnot

Quando eu era pequena gostava muito daquela história do sapo que virava príncipe - você se lembra? A bela princesa, doce e frágil, se apaixonava por um sapo e ao beijá-lo quebrava um encanto. O feio anfíbio, de pele esverdeada, rugosa e gosmenta, se transformava em um lindo príncipe. Eles casavam e eram felizes para sempre. Hoje, já grande - com meus um metro e 50 cm -, continuo ouvindo histórias encantadas, mas um tanto quanto diferentes: atualmente os príncipes estão se transformando em sapos. Ou melhor, o encanto ao ser quebrado revela a verdadeira identidade do príncipe: sapo!

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Esses anfíbios, de olhos esbugalhados (que permitem que vejam objetos na frente, nos lados e parcialmente atrás da cabeça); boca grande e um papo enorme (que infla durante o canto da sedução);  vivem de forma dividida (ora na água, ora na terra) e andam aos pulos. Parecem muito com alguns homens que hoje habitam - entre outros lugares - nos sites de relacionamentos da Internet espreitando uma oportunidade para dar um bote ( habilidade da sua parte cobra) e liberar seu veneno. Interessante... Os sapos - os reais - mais bonitos e coloridos são os mais venenosos.  Alguma semelhança com o que acontece on line?

Curiosa e perigosa esta vertente casamenteira da Internet. Por trás dos monitores, câmeras e acima dos teclados as possibilidades são infinitas. Como um universo paralelo ou um jogo de RPG, este mundo virtual vem fabricando ilusórias realidades, reproduzindo, em poucos casos, os happy end de alguns contos infantis e, em muitos casos, os finais nem sempre felizes da vida real.




As histórias de sapos que se transformavam em príncipes pelo beijo de uma princesa deram a vez para as histórias de sapos que se disfarçam em príncipes para cantar mulheres sejam elas plebeias, princesas ou rainhas. E infeliz de quem se encanta com o canto... Dizem que quem procura acha. É verdade. Só quem nem sempre se acha o que inicialmente estava procurando. O pior é quando não há percepção do engano e se enxerga o que se queria achar naquilo que não é.

A Internet em sua performance santoantonesca tem interfaces com os contos-do-vigário, que podem até ser absurdo (para quem está de fora), mas tem sempre algum ingênuo/a ou incauto/a que cai. É como um cartão virtual de amor que se recebe de alguém que não se conhece e mesmo assim se abre para ler a declaração do “apaixonado”. O que se consegue? Um Tronjan destruidor. É...  O amor cega e a carência emburrece!

As histórias sobre os amores virtuais, namoros e aventuras on line são muitas. Acontecem diariamente com mulheres, homens, homossexuais.  Adultos, jovens e até (infelizmente) crianças. Algumas são trágicas. Outras, cômicas. Poucas bonitas.  Mas acontecem e continuarão acontecendo enquanto existir gente esperta, gente crédula, gente boa e gente má.

 ...Enquanto existir no ser humano a esperança de ser feliz – ou de se dar bem!


PS: Esse artigo foi escrito em 2000, baseado em histórias reais.







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